Violão


De alguma maneira os acordes ainda ecoam em mim. 
Talvez a vida seja diferente daquilo tudo... Espero que não. Creio nas coisas que você dizia com seu violão...
Coisas de amor e saudade. De magia, irmandade, de valores. Coisas que falam de caligrafia torta, do meu sorriso inexato, do seu jeito todo seu de entender a vida - e eu. 
Lembro da voz grossa, de cantar as gotas de chuva e a seca no sertão, o concreto da cidade, a saudade no violão. 
Talvez você soubesse do que falava. Talvez se o meu cabelo fosse mais escuro, se eu fosse mais morena, que é bonito de cantar, tudo tivesse dado certo. Talvez não.
Sei que hoje o dedilhado dessas notas que se foram arde como óleo quente, nas feridas tão abertas e eu decido relembrar. Não fechar os olhos como sempre. 
Pego o violão que é meu, e lavo de lágrimas o rosto, as cordas, o braço: os acordes parcos bobos que eu sei, nem ao menos próximos do que eram os seus.
"Na noite parece tudo tão lindo, não é mesmo? " É. Até mesmo a dor no meu peito, dor sua, dor minha, dor de todos nós do mundo, dor de perder quem se ama.
Com sete notas se escrevem todas as músicas. Alguns abraços marcam mais que outros. E certas memórias traçam o mapa de nossa estada aqui. Nomes musicados, escritos, chorados, pedidos... Sons que vibram. Águas frias. Mãos calosas. Um violão.

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