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Mostrando postagens de março, 2013

Menino

Para E., se ele quiser Menino pequeno em corpo grande Com olhar aéreo do ainda menino Escondido sob as camadas de roupa Sob os teus cabelos pretos, menino Se eu pudesse te embalar Cantar uma cantiga qualquer Dessas antigas e repetitivas E trazer tua paz, menino... Se eu pudesse limpar o mundo Das iniquidades e imundícies Se eu o pudesse pintar de branco Puro como a tua alma, menino Se a dor que sentes Eu pudesse retirar! Teus sofrimentos abrandar Tua vida clarear... Se fosse possível retirar as pedras Os ciscos do teu caminho E secar as lágrimas dos teus dias Dos teus olhos de bola de gude. Mas não é. Não posso Fazer tudo o que faria Ou extinguir, num abraço Toda a melancolia. Não posso... Mas gostaria. Alguém fará isso, menino - um dia.

Gratidão

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Gostaria de agradecer. Não sei a quem, a Deus talvez, mas com Ele posso falar diretamente, não necessito escrever. Agradecer, de alguma forma, ao mundo inteiro. Por esse conjunto de maravilhas e delicadezas que existem em todos os lugares. Por essa infinidade de olhares, e tristezas, e penas e dores e lágrimas espalhadas pelo mundo, porque são lindas também todas elas. Porque engrandecem a alma, aproximam pessoas, porque tudo que existe é lindo, seja bom ou ruim. A você, mundo, que existe e respira constantemente todos os dias, às tristezas e alegrias com que enche minha vida, obrigada.

Crianças Down

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Hoje é o Dia Internacional da Síndrome de Down. Acho que mais que um post, esse dia merece uma séria reflexão... Eu nunca conheci nenhum adulto portador de Down. Inclusive acho essa palavra horrível, portador, que coisa fria e impessoal! Mais do que um organismo com um cromossomo a mais, as pessoas são pessoas.  Já as crianças que conheci são encantadoras. Vi nelas um amor raras vezes encontrado em nós, adolescentes e adultos. Como se elas tivessem o dom de aflorar em si mesmas as características que com o tempo acabamos sempre por perder. São crianças diferentes, em maior ou menor grau. Não mais ou menos que outras; apenas diferentes.  Admiro todas as pessoas que se dedicam a cuidar dessas crianças, algumas que cheguei a conhecer e outras tantas anônimas mundo afora. Admiro essas crianças, e seu sorriso extremamente doce. Reconheço a grande responsabilidade em cuidar delas e educá-las. Reconheço o enorme desafio de permitir a elas exporem-se a um mundo incompreensivo e cr

Dúvida

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Procurei o calendário com intenção de calcular uma data. Correndo  os olhos pelos números, me peguei virando folhas e subitamente perdida  num mundo de dias confusos...  Diante de mim estavam os anos que ainda viriam, e aqui estava eu como  a pessoa que  seria neles. E a dúvida: Quem? Quem serei eu quando estes anos saírem da folha e se esgueirarem  sorrateiramente por baixo da porta?

Futuro

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Estou olhando papéis. Há uma desordem pungente de apostilas e cadernos na mesa, e a luz branca da luminária envergonhada perante a bagunça. Será que existe algo mais precioso que o futuro? A idéia de melhora, o sonho que se acalenta carinhosamente à noite, as ilusões registradas no diário. Essa palavra usada por pais e mestres, por engenheiros e prefeitos, investidores e agrônomos. Palavra que aparece tanto nas campanhas do governo! E  o que é "futuro"? Eu respondo: um direito. Uma alegria. Um motivo para continuar. Uma meta, objetivo, um desejo escondido talvez. Tudo, menos essa coisa desalentadora que se estende à frente de nossas crianças miseráveis; tudo, menos a iniquidade e sofrimento imposto a elas pelas circunstâncias - isso não é futuro.  Pois futuro tem que ser escolha. Aqueles papéis desordenados são meu futuro. São a educação, o estudo, o esforço, o suor e as lágrimas que preciso derramar em meu caminho. São os sorrisos, as letras, os livros, as conquist

Frio

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Está frio na cidade e eu me peguei pensando em alguém. Pela primeira vez em meses, desejando outra vez um abraço meio morno, intimidades conquistadas, piadas bobas. Lembrando de blusas compartilhadas, de mãos frias unidas que se tornam quentes, de comida calórica (como deve ser) e filmes no sofá. Podiam ser os seus braços. Ou talvez outros. Ou os desse alguém que vai te aquecer nesse inverno, e eu sei que vai. Porque quando chega o frio, os corações solitários congelam... E os quentes, como o meu, buscam abrigo. Em lembranças, moletons, cheiros amados ou (quem sabe?) braços novos. Rio ao pensar em meus lábios frios, com coração quente por baixo.

Intrínseco

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"_Você viaja pra qual lugar? " "_Todos, eu sou viajante do mundo." O mundo, esse lugar idealizado, perfeito, incrível, fantástico. O mundo, este lugar miserável, este mundo cheio de esquinas e crianças mal nutridas.  O mundo, qualquer perspectiva que tenha a palavra. Um globo, um conceito, um mapa, um livro, vários países, seus nomes, histórias e conflitos. Este lugar bonito e trágico, dramático e inspirador, que amamos sem saber e temos tanto medo de perder. O mundo, este lugar intrínseco na vida e alma daqueles que, apaixonados, se decidem por descobrí-lo.

Melódica Melancolia

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Tristeza se exprime em nota. No descompasso dos arpejos menores, vincando o piano como sulcos pesados de lágrimas salgadas. Nas mãos frenéticas soando juntas, longe, perto, grave, forte, às vezes rápido outras tão lento como o pulsar de um coração moribundo... Ah, melódico e doce choro, pesada saudade, melancolia rabiscada em partitura! Me inunda a alma, acordes e dissonâncias com cheiro de mar, com gosto das amarguras da vida - perda. Chuva. Gotículas de som molhando a pele, embaçando a vista, turvando a retina com seus golpes frios. Impiedoso orgulho, sai do meu peito e corre, escorre pelos braços e derrete sobre as teclas claras, mancha sua candura, encarde sua brancura, mela sua canção. Mas deixe-me, tristeza, inimiga pegajosa, alcance os céus com os sons que choro com as mãos hoje.

Praia

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Elevo a voz, doce. Faz um tempo, não é? Sim... Muitos meses. Me pergunto mentalmente se esses meses esconderam os resquícios de nós dois. Se a poeira desse tempo acumulado grudou nos seus olhos, se eles ainda são verdes como era aquele mar.  Verdes, límpidos e claros como o barulho dos pássaros, como a tarde quente escorrendo pelos nossos dedos entrelaçados. Pergunto de fato. Eu quero saber... Saber se você foi tanto pra mim a ponto de ainda causar arrepios, um estremecimento involuntário, resto rebelde de sorriso. E de repente sou tomada por uma melancolia sem fim, com gosto de sol e areia e água de coco, com gosto de tudo o que podia ter sido, e cheiro de brisa do mar.  Sinto as gotas de água borrifadas pelas ondas, geladas na pele como dedos frios fazendo cócegas.  E num segundo era eu, você e um sol vermelho morno se pondo na água, era mais que isso, era... Um momento. E eu tive nesse dia um  feeling   de que seria a tarde mais ensolorada da minha memória.

Desengano

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Tantas coisas por dizer... Nada disse. Pensava-se completa... Era vaga. Acreditava pensar... Não pensava. Não tanto, não o quanto deveria. Pois confiava saber os resumos As fórmulas Os argumentos Os dias. E nada disso sabia. Tinha certeza do amor... Não mais. Julgava certo o futuro... Não era. Pensava saber seus desejos... Mentira! Era assim como a fumaça Como a bruma Era pássaro sem ninho Era nada mais que espuma. Achava saber... Não sabia. Via-se boa... Não era. Anseios que tinha... Bobagens. Antes pensava. Antes julgava. Antes achava. Antes sabia. Hoje caminha sem rumo certo Hoje não mais afirma Hoje se faz discípulo Faz-se pupilo Faz-se aprendiz. Desaprende tudo o que quis Deixa o tronco Quebra o galho Lasca a pedra Trinca o orgulho. Hoje ela é quase nada Nem ser talvez seja. Dia de desengano Onde inquestionável é a incerteza.