Sonhos Caligráficos

Quem és tu, Ó Deus? És esse Ser Supremo ao qual me hei de dirigir com palavras que não uso, com pessoas e pronomes, és o  Deus Forte, Santo, Imortal proclamado nas orações cheias de maiúsculas e rituais? Ou é esse pro qual eu canto, bato palmas, louvo e brinco? É um Deus que eu trato por você, meu melhor amigo, que não me abandona e a quem eu, toda noite, devo relatar meu dia? És o mandante dos Anjos, Senhor das Terras Celestiais, que imagino aparecendo entre nuvens de barba branca, auréolas e manto? Ou é um pedaço de mim que não sei onde está, que me eleva e trás consigo potenciais infinitos? Misericordioso, dando aos filhos várias chances, regendo a gigantesca sinfonia universal e rindo consigo mesmo, apesar de condoído, quando erro e me perco? É você o pai de braços abertos que me dizem? Ou esse que morde e assopra, que me quebra com dores e provas, para depois me dar graças infindas, lindas, celestiais? É um Deus que quer que eu louve, ou que eu viva o que prega?

4  Robustez, vigor muscular.  6  Esforço, intensidade, veemência.  7   Necessidade, obrigação.  8  Autoridade, influência, poder.  9   Impulso, incitamento.  10   Virtude.  11   Auge.  12  Abundância. (Michaelis, definição). É tudo isso, e é nada. O que é força? Quem a tem? Quem a alcança?  Creio que a força é nada mais que casca, superfície onde se esconde a fraqueza. Um apelido, na melhor das hipóteses, para a enxurrada de adrenalina que nos invade em situações de perigo. Para aquele "respira fundo e vai" tão conhecido e deveras irresponsável, pro ato de travar os dentes enquanto se fecha o corte. Não acredito que a tenha, e tampouco acredito nela - Já que não existe em mim, faço questão de não vê-la. Ilusória, é o que é a força, ilusória parábola que nos contaram e impeliram a acreditar, permeada de salmos e conselhos clichês, de abraços emocionados e lágrimas conjuntas, de alegrias e tristezas. Eu te digo "Inventaram! Quando nós, aos cinco anos, julgávamos t

Ausência é o lugar vazio ao seu lado na cama, que seu corpo não se permite ocupar, visto que já tem dono. Ausência são os diálogos mentais incompletos, é a falta de palavras simples. Ausência é a falta de cheiro de outro shampoo no seu travesseiro... Ausência são as minhas roupas que não ocupam lugar suficiente no armário, que não cobrem o buraco onde estavam as coisas que você me deu. Ausência é o vazio que se expande diariamente, carcomendo meu espaço interno. Ausência, a sua ausência, é uma rodovia de onde foram arrancadas as placas de orientação. Ausência é um caminho percorrido em duas vias, cheio de trocas e sorrisos, de repente interditado. É uma estrada que a falta de hábito não me deixa percorrer sozinha. Ausência são os meus músculos do rosto retesando um sorriso quando ouço a música que você gostava. Ausência é o período que se segue à migração dos pássaros, com lagos congelados e solitários rachando a cada geada. Ausência é bem mais que o op

A sensação de pertencimento costuma ser boa. Saber que existe um lugar, um núcleo, um abraço, onde você se encaixa perfeitamente e é querido e esperado, impossível dizer que não faz bem. Mas as pessoas são como areia. Mesmo que as seguremos com força, elas escapam por entre os dedos... Pessoas não  nos pertencem. Daqui a alguns anos, a vida terá mudado os rumos, jogado seus dados e decidido todas as coisas que não ousamos por nós mesmos. É, você a ama. Mas ela não é sua. Não é sua assim como não o foi do último ex, pois agora está com você. Não é sua como também não será do próximo, que um dia também será ex. Não é sua como nunca foi dos pais dela, como não será sua nem sendo esposa, porque um dia será mãe, mais dos filhos do que sua. Não é sua assim como ela nunca foi só corpo, e como um dia nem corpo será. Ele pode, sim, ser a razão da sua vida agora e o ser mais importante de todos. Mas isso não significa que ele nunca teve outra, ou que nunca mais terá. Ele também não é seu.