Culinária


O chiado do óleo quente ressoa  nos ouvidos já agitados. No fundo da frigideira, brilha um fogo azul com poder de transformar qualquer massa insossa em bolos, biscoitos, panquecas, suflês.
Cozinha é um laboratório de mágicas. O cheiro de curry inunda as narinas e infla a mente de lembranças da Índia, de tigres, elefantes brancos, de pingentes brilhantes, de cítara suave.
Um pingo de chocolate na boca, gosto de infância, de arte, de avó, de bolo de aniversário, dedos melados. Coentro, salsa, cebola queimada fritando na manteiga, e aquela fumaça que sobe como que viva para despertar sabores, amores, desejos, há tanto perdidos!
A sinfonia da água lavando folhas, enchendo frascos, a colher de pau no jarro de vidro inventando limonada. Semente de abóbora, talo de aipo, colher de chá, de sopa, de suco, de sonho.
-Dá uma provinha?
É abrir a boca e deslizar a colher; quente de molho vermelho, de amor, de tempero, de saudade presa em pote e despejada às pitadas, de alma aberta e paladar vivo... Algo assim: Provar uma nova comida é provar toda uma vida. É como num novo amor, uma alma nova, sensação cálida de bem estar lá por dentro - comida boa é melhor que fermento para fazer nascer paixões.
Invade a boca um gosto de medo, receio; talvez em gotas... Desaparece ao sabor da surpresa, presente em quantidade - por último, um sorriso maroto (vitória!) ao saber que o sabor do caldo condiz com o gosto da alma.
Receita nova e amor nascendo, "talvez dessa vez dê certo", desligar o fogo e sentar à mesa, dois pratos limpos, talheres. Toalha florida e farinha...
Fecha os olhos e espera um pouco.
-Delícia!

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