Perfeita, até demais

Posso dizer uma coisa? Odeio pessoas perfeitas. Simplesmente odeio! Sabe, aquelas meninas de cabelo liso, loiro, hidratado e cacheado na ponta? Cabelo assim não existe! Sabe, aquelas pessoas que estão sempre de maquiagem e prontas pra foto? Aquelas com falsa modéstia "Imagina, linda é você!", aquelas com sorriso falso "Tudo bem queridinha, imagina!", aquelas com sentimentos postiços como se fossem as unhas: "Ah, ela é uma gracinha, claro que eu gosto dela, porque não gostaria?".
Me enervam, todas elas. Todas chatas, todas gralhas, todas melosas, todas bestas. Todas tão, mas tão doces que enjoa. Todas voláteis como a garoa fina, que muda de cor com a luz do poste.
Todas um nojo, e cada uma, um traste.
Para mim não servem pra nada. Que foi, minha filha, porque tá aí parada, sorrindo que nem tonta? Veio enfeitar a calçada? Então dá licença que eu planto uma flor.
Uma que seja verdade, uma que seja de vida, uma que cresça in natura e que por si só, floresça. Uma flor que esmoreça. Porque você nunca cai, nunca entristece! Você é um ser que não se esquece… Sempre preparado pro momento, pro flash.
Vai Barbie, vai ser linda lá na China! Aqui, no mundo dos mortais, gente como você não cabe mais. Aqui gente perfeita não entra… Vai parlar com a tua espécie. Vai ver se um dia se mexe, isso, é claro, se a máscara deixar. Se o rímel não borrar. Se a unha não se quebrar… Claro, se não for te cansar. Te estragar, ralar um cantinho… Ah se você fosse minha, ia ao chão, boneca de vidro!
Pois voce não é ser vivo. Você é materia morta, burra como uma porta, matéria estática; presa em armadilha elétrica, dentro de uma bolha plástica… Você faz ginástica. Será, será Meu Deus, que ela olha no espelho e "poseia"? Será que ela se acha feia? Porque não, não é possível. Ela deve se achar incrível. Ela acha que o mundo é dela, e que rua é passarela, acha que shorts tampa, acha que bolsa estampa a superioridade que tem. Ela acha que salto eleva, mais do que o corpo, a alma. Decerto a alma é aleijada, de tanto ser desprezada!


Vai embora, coisa alheia, que diz-se eleita. Me procure se algum dia, no futuro, desistir de ser perfeita.



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