Aterrorizantes possibilidades

Quando era mais nova, todos diziam com certeza que eu seria algo grande um dia. Advogada, diplomata, modelo, cada adulto colocava a própria expectativa no jogo de apostas. E quando se cresce ouvindo que você é muito inteligente, alta, estudiosa, dedicada, e por isso bem podia ser... Quando se cresce com seus adjetivos já enquadrados em possíveis carreiras, fica difícil não acreditar que será, de fato, alguma dessas coisas. Ou no mínimo alguma coisa, alguém com um diploma na parede e sucesso médio, alguém digno de todos os elogios depositados pelos seus professores de ensino médio que diziam que você passaria onde quisesse, que você escreve muito bem.

E do alto dos dezenove anos, você percebe que na verdade não sabe se vai ser nada disso.

Depois de alguns meses fazendo nada aos olhos da sociedade mas fazendo muito dentro de mim, sigo revendo meus próximos caminhos. Um pouco já está decidido, e está claro como água, mas um pouco eu tenho medo. Tenho medo da incerteza do que eu ainda não sei e talvez não possa realmente saber, mas tenha que criar. Que fazer dos cacos do peito estilhaçado em escolhas erradas? Quem disse que eu estou apta a jogar com esta coisa tão preciosa, meu futuro? Mas ao mesmo tempo, quem melhor que eu para saber o que vai dar certo. Ninguém além de mim conhece o funcionamento dos neurônios, o sabor das lágrimas ou os últimos pensamentos antes de dormir. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". E isso, nada mais que isso, me classifica como a melhor autora da futura história do eu.

Lá fora, me dizem que posso ser tanto. Mas por vezes minha mente traiçoeira questiona minhas habilidades. Será que você escreve bem mesmo? Será que você é inteligente? Será que você é o suficiente?

Leio Sylvia Plath, e The Bell Jar fala com minha alma como apenas alguns contos de Clarice já conseguiram. A história dos figos que apodrecem enquanto ela amarga a derrota da indecisão ao pé da árvore poderia ser minha, de tão condizente. Vejo os anos passando e enquanto pessoas da minha idade estão no segundo ano de faculdade eu ainda nem sei o curso que almejo - o que não seria um problema se não fosse o relógio biológico tique-taqueando e me dizendo que não vou poder estudar pra sempre, não vou poder viajar pra sempre, se quiser ter filhos logo. Duas flechas opostas dilaceram meu peito: uma aponta para o ir, e outra para o ficar. As duas são certas.

E na demora do desenrolar das coisas me sinto incapaz de terminar o que começo, de ir adiante por mim mesma. Muitos me dizem que sou corajosa e forte, mas eu apenas me sinto confusa. Já passou a hora de sair daqui, de colocar meu corpo e espírito em movimento para assim ter certeza das coisas. Rezo para que o vento do mar me restaure a sanidade e me ajude a reencontrar o caminho para aquela porta que abre na sala escondida do que eu quero e sou. Somente lá vou encontrar o que preciso. Oremos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rant on Youth

On Pigeons

Cores e texturas