Aniversário

Aniversário 

E cá estou, rumo aos 19 do mesmo jeito que um dia estive rumo aos 16. E pouco posso acreditar no paralelo que meu cérebro insiste em traçar entre essas duas ocasiões, que em tudo diferem. Primeiro, diferem na localidade geográfica. As duas se passam no Brasil, é verdade, mas a primeira será em são Paulo (e em Santos, por algumas horas) e a segunda foi em Pouso Alegre, sul de Minas Gerais. Uma foi comemorada com a família, a outra será comemorada com a namorada - coisa que eu nem sonharia aos 16, quando me encontrava no topo de um histórico de relacionamentos doentios ou problemáticos. Graças, agora eu saí dessa estrada. Aquele de nós que nunca caminhou por ela, que atire a primeira pedra… 
Terceiro, o aniversário de 16 tinha um significado especial em termos pessoais. Eu já sabia então para onde iria, e que teria de deixar aquelas pessoas que tanto amava para embarcar numa longa viagem de avião rumo a longínquo pedaço de terra. O de dezenove representa muitas incertezas que o de 16 ainda não carregava. Não estou mais ansiosa para o futuro próximo, e sim para o de longo prazo. Embora também acoplado a uma certeza de viagem próxima, esse aniversário não tem quase nada da ingênua expectativa e frio na barriga. A percepção de partida iminente é quase uma realização tardia, um comentário que você esqueceu de fazer ao seu amigo e só se lembra já subindo as escadas depois da despedida, mas prefere mandar uma mensagem a voltar correndo apenas para dizê-lo. O que não quer dizer que eu não ligue - pela primeira vez, minha partida acarreta a viuvez figurativa de alguém que vai sentir terrivelmente minha falta. É claro que os outros sentiram, e é claro que não se pode comparar sentimentos, mas é diferente. O tipo de intimidade que se vai não se assemelha em nada à presença quieta, por vezes irritante mas quase sempre familiar e confortável que se vai da vida dos meus pais, por exemplo. Eu sei que vai doer. E a certeza de causar dor me causa dor. Mas meu olhar sobre até mesmo a dor que sentiremos já é mais maduro e menos idealista: faz parte da vida, só isso. Sobreviveremos, ambas, ainda com as pontadas ocasionais de saudade. 

Acho que os três anos entre um e outro me fizeram crescer. Me trouxeram muita coisa que eu nem seria capaz de imaginar. E o ruim foi importante. Olhando para trás, não consigo ver a história de nenhum jeito diferente - e nem desejo mudança. Foi escrita cuidadosamente por mão talentosa. Mas ao sentir o vento no rosto, me pergunto: quais linhas serão escritas agora? 

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