Amor de Cinema

Hoje meus pais se sentaram juntos para ver um filme. Por capricho do destino, do DVD pirata ou do comprador (meu pai) que não escolheu a versão brasileira, foi impossível colocar legendas em português.
O máximo a que chegaram foi a legenda em inglês, e depois de muito esforço.

Saí da sala nesta parte da história, para minhas blusas amarrotadas e mochila por arrumar. Ao passar pelo corredor, ouvi a voz de meu pai traduzindo as falas.
Com o inglês enferrujado, ele lia cada uma das legendas e escolhia o significado mais próximo, às vezes comentando um trocadilho ou algo sobre a situação dos personagens que facilitasse o entendimento.

Sorri. Será que eu teria essa paciência? Eu não sugeriria outra escolha? Será que passaria duas horas me esforçando, traduzindo falas rápidas para fazer alguém feliz?
Isso, mais que flores, chocolates, bombons e roupas, é amor.
Esse é o amor que nós, meninas, queremos e esperamos desde os nove anos. 
Pense um pouco. Será que os personagens do seu romance preferido ficariam duas horas traduzindo um filme um para o outro? Ele carregaria todas as compras para ela? Ele se levantaria à noite para fechar a porta que está batendo? Ele mataria os ratos, baratas, lagartixas, e a trataria com gentileza, ou reclamaria do escândalo e do medo?

Se as respostas forem negativas, repense sua escolha.

Amor é mais que presentes. O amor fora dos filmes e livros é rotina, é acordar lado a lado, perdoar as manias, compreender os defeitos, conviver e rir um do outro. Esse amor é diário - não um verão, não um para recordar, um para viver.
E, ocasionalmente, traduzir um filme sem legenda.

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