Tô cansada - mas e daí?

Eu estou cansada. Cansada de ter que pegar transporte público lotado todo dia às seis e meia da manhã, apertada e desconfortável, pra ir assistir aula numa escola particular paga com suor porque as públicas não conseguem me passar uma boa base educacional. Eu estou cansada de ter medo de sair na rua à noite, porque a iluminação é falha e porque eu não consigo mais confiar nas pessoas a ponto de me sentir segura. 
Eu estou cansada de ler no jornal sobre assassinatos, eu estou muito, muito cansada de ver tanta opressão contra a mulher. Estou cansada de ver trotes violentos e desumanos, cansada de ver gente sendo hostilizada pelos próprios colegas de turma. Cansada de ver tantas coisas ruins acontecendo em escolas e universidades, que deveriam ser ambientes seguros e de tolerância.
Eu estou cansada de ficar indignada, porque a minha indignação é tanta e tão freqüente que me esgota. Cansada também de chorar, de chorar de horror e dor pelas pessoas desse país, pela Cláudia e o Amarildo e a moça estuprada no metrô. Eu simplesmente não aguento mais.
Meus olhos gostariam de se fechar e nunca mais ver o descaso com a educação, o desrespeito para com o povo, nunca mais ler sobre nenhum escândalo envolvendo uma grana preta de uma estatal; eles gostariam, mas não é assim que se faz mudança.
Eu estou, sim, muito cansada. E é vencendo o meu cansaço que eu escrevo esse texto, é vencendo meu cansaço que eu educo meus primos a serem humanos, a pensarem no que dizem. É vencendo esse cansaço que eu apelo a todos vocês que não fiquem parados, que ajam quando virem algo fora do lugar. Eu não posso fazer muito, mas posso exigir minha nota fiscal e não deixar furarem fila no banco. Posso denunciar, conversar, me informar, e defender quem precisa.


Porque pra ser forte, a gente tem que seguir em frente, mesmo cansado.

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